quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Menina do Espelho

Ela é uma boa amiga. Mas é feia. É estranha. Chata e reclamona.
Mas é sincera. É forte. Quando ela se olha, ela não se pergunta se está gorda, mas sim no que ela se transformou, no tanto de rugas de preocupação que obteve. Usa roupas largas, calça jeans e enfiou na cabeça que um All Star roxo era o melhor calçado do mundo.
Ela é quase um monstro.
Ela não acorda na mesma hora que eu, seu rosto é cansado e amassado, cabelo rebelde e estranho. Mas ela está ali, de pé. Na minha frente. Sempre que eu precisar.
O que eu mais gosto na Menina do Espelho é que ela não se esconde. Sua pele não é mascarada e seu cabelo não é tão artificial. Isso não quer dizer que ela seja descuidada, mas quando olho nos seus olhos, a verdade deles não está escondida atrás de qualquer delineador e rímel.
E ela se sente tão sozinha.
Seu divertimento é mostrar sua força, sua capacidade. Tem coragem de disputar uma queda-de-braço com um príncipe encantado sem se apiedar. Suas palavras são puro sarcasmo.
Hoje em dia ela está sumida. No fundo espero que ela tenha ido embora, mas isso não quer dizer que ficará alguma saudade. Pelo contrário.
Na verdade eu não espero muito que ela tenha ido. Espero que ela dê um tempo, um descanso, precisa [deixar de] pensar. Precisa sair não só do espelho, mas do armário, pois o espelho mora no armário. E quando ela voltar, volte com força e a garra que tinha, para amparar as outras Meninas que tentaram invadir o seu lugar e não conseguiram. Porque ela anda tão cansada.

Um comentário:

Arthur Rangel B) disse...

Não concordo.Acho que se essa menina existe, deve estar em algum lugar real.Se ela faz parte de alguma coisa realmente, ele vai estar ali presente sempre.O que pode estar acontecendo, é que ela deve se apagar um pouco por ter que dividir o espaço com outras meninas novas que antes não existiam.