quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sobre o NÃO pensar.

SITUAÇÃO I:
Fazer pirueta na ponta é uma das muitas coisas difíceis do ballet. Você nunca sabe se tem que girar ou subir na ponta, porque fazer as duas coisas [que é o certo] é quase um milagre. Um dos muitos dias em que não consegui fazer uma pirueta, uma colega que estava do meu lado vendo meu esforço disse: 'é só pensar que você tem que subir'. E não é que, na vez seguinte, eu consegui?

SITUAÇÃO II:
Outro dia, na aula de música, meu professor quis que eu repetisse as notas do piano, cantando. Eu me concentrava, mas assim mesmo errava, sei lá o porquê. Aí ele disse: 'sente o som, não pensa na nota, só sente a música'. E não é que eu consegui?

SITUAÇÃO III:

No MSN sempre tem aqueles amigos que adoram conversar, mas nunca tem assunto [eu sou uma deles]. E ainda inventei de conversar com um amigo assim também. Aí um dia eu falei pro cara 'anda, puxa assunto'. Ele: 'eu não consigoo'. Eu: 'por quee?'. Ele: 'porque não faço nada sob pressão...'.


Na vida eu tenho que pensar e não pensar. Pensar dói e não pensar às vezes é necessário. Muita gente confunde pensamento com concentração, e isso é muito comum. Não sei muito sobre isso, mas todo dia tento compreender, e o máximo de conclusão a que eu cheguei foi que há uma linha tênue entre essas duas ações.
Penso que a melhor maneira de chegar a essa conclusão é exercendo algum tipo de arte ou algo que você tenha que sentir para fazer: dançar, escrever, tocar, pintar ou até mesmo conversar. Talvez seja pelo fato dessas ações não virem só do cérebro, mas também do coração. E a gente manda no coração por acaso? Pois é.
Eu não sei explicar. Quando você se concentra, você sente, e não pensa por isso. Por exemplo, quando você vai cantar, você se concentra na música e cria uma espécie de 'relação' com ela, é o chamado 'envolvimento'. Parece que cada nota, instrumento, o clima, a plateia, o dia, a noite, tudo se une para que você cante, porque sua voz meio que se entrelaça com tudo isso, criando uma espécie de harmonia, e talvez por isso a música seja algo realmente envolvente.

Mas estou só imaginando. Eu não sei cantar, não sei mesmo. Mas nos últimos tempos tenho observado de perto o mundo da música, e você pode ver isso a partir da expressão dos músicos. A maioria deles canta de olhos fechados e fazem aquela cara de orgasmo [sério, nao to brincando] quando cantam. Até porque arte também pode ser uma espécie de êxtase, que muitos pensam que só atingem quando possuem alguém.
Daí vem os olhos fechados dos cantores, a sensualidade realista dos dançarinos, o choro fácil e a alegria contagiante dos atores, porque eles estão se concentrando ao máximo, não para fazer o que lhes é imposto, mas fazer o que eles sentem, e por isso sabem. Por isso pessoas não fazem arte por fazer, mas porque entendem a mensagem que querem passar, compreendem que nada do que eles fazem é em vão e pode dar um sentido diferente à emoção das pessoas. Basicamente, se concentrar não é pensar, é sentir. Só.

E quando você pensa? Bem, tenho uma teoria: pensar requer uma outra concentração, a concentração em uma coisa só. Porque por exemplo, quando você quer escrever e fica pensando 'tenho que escrever, tenho que escrever' e fica 'caçando' assunto na sua cabeça, algo por lá se fecha. Por quê? Não sei, acho que você pressiona seu cérebro a fazer algo, de modo que só ele trabalhe, e não deixe seus sentidos, a sua alma e seu coração trabalharem livremente. Porque quando você pensa, você não está muito de acordo com o que há à sua volta, mas sim ao que está na sua cabeça [que é algo que você está procurando], pois você não consegue abrir sua mente para que as ideias fluam em seu sentido natural, mas sim o sentido que o seu cérebro requer, que pode ser mais rápido do que a inspiração e criação, já que é mais exigente e concreto.

Só tem um problema sobre minhas opiniões: eu defendo o lado da concentração, e não o pensamento. A concentração é passional e humana, enquanto o pensamento é exato, como a matemática. Então eu queria que vocês pensassem nesse post e, se tiverem uma mente mais exata do que 'humana', pudessem debater sobre o pensamento, pois ele não é algo prejudicial, como parece que foi descrito aqui. Mas atenção: o pensamento só é prejudicial dentro do mundo passional. Na vida, o pensamento se faz bastante necessário para a construção da ética e da cidadania, enquanto muitas pessoas que possuem uma mente altamente passional dizem o que querem, e ouvem o que não querem.

Mas penso nisso e na Situação I que descrevi acima... como foi que eu consegui fazer a pirueta, se eu estava só pensando em subir? Acho que foi um milagre, ou simplesmente, com o pensamento de subir, tenha adquirido coragem para fazer o que eu quero. Mas então peraí: a concentração não anda junto com o pensamento em si, mas anda junto com a autoconfiança?

Bem... essa discussão fica para outro post ;D


"O que passa pela sua mente quando está dançando?
- Eu não penso. Pensar é o maior erro que um dançarino pode cometer. Você tem que SENTIR. Você se torna a base, o clarinete, a bateria, se torna os instumentos... você se torna a música fisicamente."
(Michael Jackson em entrevista a Martin Bashir no documentário"Living With Michael Jackson", 2002)

3 comentários:

Ayla disse...

É esse post me fez pensar, senti que foi pra mim xD
gostei, mas seilá, sou meio dividida entre essas duas coisas, as vezes quero não pensar e as vezes quero me concentrar, mas parece que toda vez que quero uma dessas coisas acabo ficando com a outra...
Muito complexo...

Arthur Rangel B) disse...

Também acho complexo demais Ayla, acho que sou um meio termo entre essas duas coisas.Pra mim pensar sem se concentrar é um ato incompleto, e vice-versa.Na verdade acho que os dois são a mesma coisa, apesar de serem diferentes, se é que dá pra entender.

Raphael Rodrigues disse...

Não acho dificil o que escolheria pra mim, acho dificil é conseguir atingir a meta. Bom, sobre toda essa dúvida entre pensar ou nao, eu prefiro o sentir junto ao pensar, de forma que virem um só, porque de certa forma, eles realmente devem um complementar ao outro. Imagine vc sentir a dança, conseguir dançar, e ainda assim entender a dança misturando a sensação com a razão e também entendendo separadamente a dança com razão e sentimento. Imagine isso... Imagine falar ingles, mas, esqueça que é ingles, fale como sua lingua nativa, entende? imagina, sentimento + razão... parece não combinar, mas eu acho a mistura mais dificil de se obter, e muitas vezes que se tenta misturar da errado, mas, se a mistura der certo, imagine...