domingo, 2 de agosto de 2009

In Memoriam

Para ler ouvindo: Gone Too Soon [clique com o lado direito do mouse em 'abrir nova janela']

[eu sei que o post está ENORME, mas me entenda, por favor, é mais que um desabafo, é uma declaração de amor.]

Simplesmente não resisti. É claro que não é tarde, afinal antes tarde do que nunca, pois faz bem contar uma história de amor de qualquer época, contanto que ela seja memorável para alguém.
E tudo isto não é de hoje. Começou nos meus turbulentos onze anos de idade. A fase da tentativa de conquistar um espaço num mundo feito de meninas que idolatravam o laranja-e-rosa e dançavam ao som de Black Eyed Peas e Felipe Dylon [é ¬¬]. E tudo isso só serviu para que eu fosse ainda mais introspectiva. Fazendo um mundo só meu, as escolhas tão diferentes, uma rotina tão diferente, gosto tão diferente daqueles meninos e meninas.

Tudo começou com uma revista comprada por acaso. Era a Superinteressante, com a foto dele rasgada ao meio propositalmente, o que na verdade eram duas fotos, uma dele aos 11 anos e outra aos 46, fazendo uma pergunta-título que não me lembro, pois minha mãe usou a capa para fazer um trabalho da faculdade.
A revista continha uma porção de fatos que eu nem sonhava que ele tivesse feito. Filhos, ações da mídia, falcatruas e milhões de coisas que eram demais para minha cabeça de 11 anos de idade. Tudo aquilo, toda a sua história já acontecera há muito tempo, e tinha vindo à tona, para que a minha geração soubesse quem ele era. Mas não devia ter sido daquele jeito. Antes de saber quem ele realmente era, tudo o que eu via na TV era um fantasma desfigurado com cabelo de senhora que acabou de sair do salão de beleza. Um estranho, diga-se de passagem. Mas eu não achava que era um monstro. Nunca achei.

Depois foi um cd, ganho no meu aniversário de 11 anos. Depois foi um DVD. Depois outro CD. E outro DVD. E revistas e jornais. Sua música rodava na minha cabeça o dia inteiro. Passava a morrer em cada página de revista que escrevia seu nome. Passei a prestar atenção no Jornal Nacional. Como podia um homem de voz tão doce e atitudes de criança podia ir para a cadeia, tachado de pedófilo, sendo quem ele era?
Enquanto eu ouvia as suas músicas, ele estava sendo julgado e esfolado pela mídia [o que não é nenhuma surpresa]. O risco era de 20 anos de prisão por pedofilia. VINTE ANOS? Eu rezava todas as noites para que isso não acontecesse, que eu tivesse pelo menos uma chance de sentir que fazia parte de sua geração, de seu reinado. Vê-lo brilhar de novo, e não num banco de réus, devendo milhões de dólares à não sei quem. Eu sabia que isso era muito difícil de acontecer. Mas eu sabia que não era impossível. E continuava a rezar pela sua absolvição. Peguei a Superinteressante que havia comprado e risquei alguns trechos da reportagem, escrevendo 'MENTIRA!'. É. Tenho essa revista até hoje, e o sentimento que me dá ao vê-la é pura nostalgia. Arranca risadas, se quer saber...

Sim, eu o amava. Muito, muito mesmo, mais do que o garoto de quem eu gostava na época. Qualquer garoto era uma desprezível perto do meu deus da música.
E eu era tão incompreendida. Eu não tinha com quem compartilhar o meu amor, o meu gosto, a minha insatisfação com a mídia. Eu via as poucas amigas que tinha desprezarem meus CDs, xingarem cada música e ouvir as piadas do 'cara que anda para trás e come criancinha'. Era torturante. A única que me entendia era a minha mãe, mas tinha uma certa raiva dela, por ter aproveitado sua juventude ao som das suas músicas, da sua beleza e sucesso, enquanto eu só presenciava as piadas e acusações que eu considerava sem sentido. Para mim aquilo era triste demais. Principalmente por sentir que havia nascido na época errada, ouvindo as músicas erradas. Eu daria a minha vida para ter onze anos em 1983, e não em 2004.
Então eu sonhava sozinha. Sonhava com sua volta. Sonhava com o dia em que eu o conheceria, e ele me levaria para Neverland para brincar e vê-lo cantar.

Mas eu não era Peter Pan, eu tinha que crescer. E deixar os sonhos de lado. O sonho de sua volta não estava esquecido, estava guardado lá no fundo do meu coração. O tempo passou e eu não ouvia suas músicas com tanta frequência, e não me machucava mais com as piadinhas sobre ele. Até porque, eu tinha uma certa vergonha dos meus inocentes onze aninhos, que eu gastei sonhando e chorando, como um 'passado negro'. Até que um dia qualquer, quando tinha quase esquecido que ele existia, soube que havia sido absolvido havia algum tempo, eu não tinha internet para ficar sabendo das coisas em tempo real. Fiquei bem feliz... e percebi que rezar e acreditar em quem se ama vale [muito] a pena.

E a vida continuou. Outras bandas vieram, outros amigos vieram, outros ídolos vieram. A internet também veio, é claro. E com ela, surpresas em tempo real.
Pulemos para os meus 15/16 anos. Um dia qualquer de março de 2009. Resolvi voltar a ouvir suas músicas. Saudade, sei lá. Meus CDs e DVDs estavam jogados em algum porta-cd da sala, eu não mexia neles há... quatro anos? Por aí. Uma onda de nostalgia tomou conta de mim quando voltei a ouvir as primeiras batidas de 'Smooth Criminal'. Eu tinha esquecido o quanto era bom. Baixei tudo o que eu pude na internet. Quanta música desconhecida havia, quanta música boa havia, meu Deus! O quanto que as pessoas perdem ao deixar de ouvir obras-primas como suas músicas! Eram únicas, tinham alma, tinham cor. Sei lá.

No mesmo dia entrei na comunidade no orkut. Pra saber por onde andava, oque estava fazendo. Quando eu ouvi a melhor notícia do ano: a promessa de voltar aos palcos a partir do mês de julho, numa série de 50 shows na O2 Arena, em Londres. Num segundo, a menina sonhadora de onze anos havia ressuscitado, ela poderia enfim realizar o seu sonho! Ou não... afinal, também soube que os ingressos haviam se esgotado em cinco horas [um recorde]. É, o meu deus havia voltado. Na verdade, nunca tinha ido.

Aí vieram ainda mais notícias... as especulações de que poderia fazer uma turnê mundial. Quase chorei ao ver os vídeos da audição dos bailarinos que iam ter a honra de dançar com ele na turnê. Devia ser a honra máxima, dançar para seu ídolo, ele saber quem você é e o quanto dança bem. Mas eu me contentaria em simplesmente ir ao show dele. Não sabia como, mas tinha que ir. Eu e mamãe víamos cada data dos shows, e se havia ingresso sobrando... talvez em fevereiro daria para ir. Tanto faz. Só de saber que o sonho da menina de onze anos havia se concretizado, eu já estava megafeliz. Ele tinha até tirado aquele escovão do cabelo. Chegava a estar bonito. Porque, quando você o ama, você não acha ele feio. Seja branco, seja negro, vestido de terno ou de robô. Em 1987 ou 2007.

E havia, é claro, as especulações sobre a saúde. De um lado, o The Sun publicava que ele havia vomitado e chorado durante os ensaios. De outro, o USA Today publicava que sua saúde estava intacta e sua turnê prometia. E eu, mais empolgada que nunca, voltava a dançar ao som de suas músicas. Mas ficava com medo. Um dia qualquer do começo de junho, eu estava escutando 'Morphine' [uma das minhas músicas favoritas] e pensei, com medo: 'se ele morrer eu morro junto'.

Eu estava escutando Morphine mais uma vez, no corredor da aula de inglês, enquanto esperava minha vez na oral test. Quinta-feira, 25 de junho. Sozinha, enquanto meus colegas estavam conversando alegremente em frente à TV. Olhei para a TV e vi que estava no canal da CNN. Mostrando uma mansão branca e bonita, e a legenda explicava que um cantor havia sido internado. Depois mostraram o nome e ele entrando na ambulância. Michael Jackson.

'Por favor Deus, não deixe MJ morrer', eu pensava. Ninguém à minha volta se importava com a TV, ou com meu coração apertado. O secretário do curso só percebeu depois, quando eu já estava quase tendo um infarto. Sofrendo silenciosamente, como sempre, eu só olhava a tv e traduzia a reportagem em espanhol. Fui fazer a prova com relutância, e ainda tinha aula de violino depois. Não dava tempo de ver o veredicto no Jornal Nacional.

'Ele morreu, vó?', eu perguntei, mal havia chegado em casa. Estava passando novela das 9. 'Morreu'. Tudo o que eu fiz foi gritar e xingar, pois as lágrimas não saíam. Porque tristeza não havia, só a raiva.

A ficha ainda não caiu. Ainda acho que ele vai voltar. Não sei quando, nem como. Especulações, há muitas, acompanho cada notícia e teoria que sai, sejam elas menos ou mais convincentes. A esperança precisa tomar lugar da tristeza que só aumenta à medida que o tempo passa.

As lágrimas vieram depois, há duas semanas atrás, assistindo a um show dele da HIStory Tour, de 1997, na TV. Comecei a chorar quando ouvi os acordes de "I'll Be There". Só de ouvir 'just call my naame/and I'll be theeere...', a dor aumentava. E, quando voltei a olhar para a tv, percebi que ele também tinha se agachado no chão e chorado.

E há milhões de grupos de discussão na internet, apontando evidências cada vez mais claras de que ele não morreu. Eu e mais boa parte de gente se agarra a essas teorias como se fossem a própria vida. Garotas que amam Mike tanto quanto eu o amava há anos atrás, e ainda amo. Percebi, finalmente, que não estou sozinha, que eu não sou a única 'bobona', que eu não sou a única sonhadora, esperançosa. Isso é legal demais de saber, esteja ele morto ou vivo.

A cada dia me lembro dele, ouço suas músicas, ainda que não queira. A procura e venda pelas suas músicas aumentou MUITO. Agora sempre há um carro na rua tocando 'billie jean' e 'thriller'. Minhas amigas, que antes me chamavam de retardada por eu viver com o CD dele no discman, ficam o tempo todo cantando o refrão de 'ABC', a única música que sabem, além dos refrões [errados] de billie jean e thriller, é óbvio. Apesar de dar uma certa raiva pela valorização póstuma [depois de terem feito tantas piadas de mau gosto enquanto estava vivo], fico feliz com o reconhecimento. Como eu disse no começo, antes tarde do que nunca.

Mas, no caso de Mike, por mais tarde que ele morra, sempre será cedo. Porque as pessoas que o amam não querem que ele se vá nunca. Só quero que ele esteja bem, esteja onde estiver. Que ele consiga a paz que nunca teve.

Eu te amo, Michael. De verdade. Descanse em paz.





Um comentário:

Arthur Rangel B) disse...

Nem vou falar muita coisa aqui.Você sabe que não gosto de Michael Jackson, e não é só porque ele morreu que vou começar a escutá-lo, como muitos fizeram.Mas sinto muito pela sua perda.Talvez eu só não goste dele por ele canta com voz fina e em ingles, mas quem realmente entende de música diz que ele é bom, então acho que não é só porque não gosto que devo adorar a morte do cara.Foi uma perda pra música, e isso sempre vai ser ruim.