"Tenho escrito mais do que ando escrevendo e devia escrever mais do que escrevo. Fico meses rabiscando um capítulo ou rascunho. Leva tempo (às vezes anos) para que eu conclua um livro: uma história completa com começo, meio e fim; que eu construa as personagens e aos poucos as faça conhecer; que eu revele segredos perturbadores; que eu espalhe pistas para novos mistérios; que eu dispa a privacidade alheia excitando sempre que possível; que eu transmita, sem enfado, cada sentimento mudo ou barulhento; que eu adiante (sem estragar surpresas) as coisas miraculosas que se manifestarão naquelas páginas; e que eu conclua, mais de uma vez se preciso for e com maestria, tapando cada frasco aberto durante a feitura do enredo, no caldeirão de cenas que chamamos de romance. Está tudo no livro como um testamento para eu não ter de explicar para ninguém, porque sei que um dia vou morrer e não quero que me evoquem para perguntar: "Kizzy, o que aconteceu com aquela personagem?". Minha amiga, a escritora Flávia Muniz, diz que sou o caos, imagine como me é difícil cuidar para que todo esse caos que habita em mim faça o mais completo sentido no final da obra. Portanto procuro criar algo que leve a minha assinatura. Sempre atento a uma idéia nova para experimentar em minha narrativa. Não temo o fracasso, temo a inércia. Busco no cadedal do cérebro algo que funcione, que cause agrado, cause estrago, e quiçá um dia possa ser chamado de literatura. Há quem diga que eu possa achar. Há quem diga que é vã promessa, dessas vagas, que não se vinga. Mas digo que escrever me é custoso. Dói, porém me encanta mais e mais a cada página escrita. E me faz sentir deus de meus próprios sonhos. E por isso, somente por isso, continuarei."
(Kizzy Ysatis - La Lida das Letras - p. 261 - Livro: O Diário da Sibila Rubra)
Um comentário:
eu só li a metade d'O Diario da Sibila Rubra... mas o que li realmente remete ao que ele fala nessa descrição. ele tem um estilo maravilhoso. preciso tira-lo da estante o/
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