sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sobre ler, escrever e pensar.

Vontade danada de escrever, e não sei sobre o quê. Meus [poucos] leitores devem achar que eu sou uma pessoa mergulhada na dor e na solidão, só porque os posts são SÓ sobre isso, já devem ter reparado.
Ah, não é assim. Mas não sei, acho que há algo de mecânico quando escrevo sobre algo engraçado ou mais alegre, ou informativo. Na verdade eu acho mesmo que não sei escrever, embora alguns digam o contrário. A verdade é que eu só sei escrever sobre mim, porque acho que é aquele negócio, eu não vivo para escrever, mas sim escrevo para viver. Pode-se dizer que, escrevendo, eu penso melhor sobre mim, e isso não é ruim, mas também não é bom.

Mas talvez seja essa a essência de escrever: o pensar. Pode ser uma conclusão meio óbvia, mas não é, é que eu não sei explicar. Nos últimos tempos, além de escrever para pensar, resolvi ler para pensar, ler até o cérebro doer, pois apesar de ler muito, eu não absorvo cada livro que eu leio, apesar de eu me lembrar deles. Mas decorar um livro é diferente de entender.

Hoje no almoço [tenho o péssimo costume de me alimentar com um livro no colo] estava lendo um livro de crônicas de Clarice Lispector e estava pensando nisso. A primeira frase da contracapa do livro descrevia bem a autora: "Uma escritora determinada a desvendar as profundezas da alma. Esta é Clarice Lispector que blablabla...". A cada dia que leio, a admiro mais, mas me decepciono com algumas coisas. Não sei se é o meu cérebro ou se é assim mesmo, mas não gosto muito dos livros dela, e sim das crônicas.

Todo mundo sabe que a alma é algo profundo e ilimitado, e gosto muito do jeito dela expressar isso, mas o único livro dela que tive paciência de terminar foi 'A Hora da Estrela' [tenho esse e 'O Lustre'], e isso porque é o livro mais fininho dela, e mais simples. Eu o recomendo, apesar de ter odiado o final, o que não é surpresa, porque eu odeio finais. Sei lá, a impressão que eu tenho é de que os autores escrevem os finais de um jeito rápido e mal elaborado, como se tivessem pressa de terminá-lo. Parem de ler os livros duas páginas antes do final e não se decepcionarão com eles, ainda mais esse aí que eu disse.
Por outro lado, adoro as crônicas dela. Quando há um limite de palavras, as ideias são mais claras e sem redundância, e isso sem perder a magia. Sem contar que a maioria das crônicas possuem finais por conta do leitor, o que deixa as crônicas sem um final concreto, o que melhora o aspecto da história. Talvez seja por isso que só escrevo sobre sentimentos ou sobre mim mesma, pois não sei contar histórias nem colocar um final decente nelas, até porque o que eu sinto não tem fim [poético isso ¬¬]

Mas não só o final é algo que me incomoda: é o livro inteiro. A-DO-RO Clarice Lispector, tipo, descobri que penso que nem ela, a diferença é que não coloco essas ideias no papel por não saber como. Mas se eu pudesse reescrever os livros dela, teria um pouco menos de redundância, porque assim facilitaria a filosofia dele. E não, não perderia a graça, juro por Deus. Teve uma vez que tive que pegar um papel e reescrever uma frase inteira dela e organizá-la, só pra poder entender o que queria dizer. Um exercício danado.
Quando você acha coragem para ler um livro dela, você passa por um período de exaustão e preguiça, ainda que o livro seja perfeito. Porque cansa, cara. Não estou falando para desencorajar ninguém, pois o que a humanidade precisa ler Clarice Lispector, mas porque você precisa ler uma linha várias vezes para entender o que ela quer dizer. E isso não é ruim, de modo algum. Mas é como exercício de matemática, dá uma dor no cérebro, mas vale a pena.

Outra coisa que estou lendo é um tiozinho chamado Jean-Paul Sartre: "A Idade da Razão". Para ele digo o mesmo sobre Clarice Lispector, embora ao contrario de Clarice, o começo do livro é mega fácil de entender, mas depois vai piorando que só. Piorando não, melhorando. Mas mesmo que eu leia o livro com a maior atenção do mundo, eu acabo indo de um parágrafo ao outro e percebo que o personagem está em outro ambiente e fazendo outra coisa. Uma confusão, de modo que eu tenha que ler duas vezes. Mas é realmente ótimo, e um pouco mais simples. Como já dizia Raphael [o sobrinho da dona do livro]: 'é leitura de macho pra macho'.

Ler e pensar tem sido difícil pra mim, porque eu sou muito distraída. Mas não tem sido ruim. Livros como esses ajudam bastante, são coisas que, embora complexas, você descobre que já teve essa sensação ou pensou algo assim, aquela velha frase que quase ninguém entende, mas que todo mundo sente: 'o gosto do cheiro'. Livros para pensar são um ótimo exercício para você sentir o gosto do cheiro, ainda que seja de páginas velhas e do perfume do personagem principal da história.

2 comentários:

Arthur Rangel B) disse...

"só dando muita porrada nesse menino, que diz que não escreve bem, mas faz um texto desses! u.u"

Nunca li Clarisse Linspector, ='(, nem muito menos esse último carinha.E defendendo a minha amada matemática.Se você abrisse a cabeça pra ela veria que é tão bom quanto os livros.;p

Yash disse...

"só dando muita porrada nesse menino, que diz que não escreve bem, mas faz um texto desses! u.u"
[2]

XD ri disso

Nunca li Clarisse Linspector, ='(, nem muito menos esse último carinha.[2]

E sim, ótima é a sensação de sentir o gosto do cheiro, mas não precisa ser só dos livros e dos personagens.. Se se concentrar um pouco em qualquer coisa a volta, também sentirá.