sábado, 19 de setembro de 2009

Saudade da Vergonha.

É, da vergonha. Aquilo que amedronta e paralisa, impede uma briga ou uma declaração de amor.
Mas também impede o escancaramento, se é que me entende.
Se bem que não é a minha. Já tive vergonha demais nessa vida e ainda me restou muita. O que eu falo é vergonha dos outros. Ela pode ser ilusória [de uma época que não vivi] ou alheia. Mas é vergonha.

Tenho saudade da vergonha de brigar, o que fazia com que a briga fosse sinal de baixaria e gente sem educação, em vez de pessoa forte e que luta pelo que quer, só que com socos e pontapés.
Tenho saudade da vergonha que as mulheres sentiam só por mostrar o tornozelo ou um pequeno decote, o que trazia magia e mistério àqueles corpos dentro de espartilhos bonitos.
Tenho saudade da vergonha das pessoas contarem sobre sua vida pessoal, sexual ou higiênica, o que trazia conversas mais limpas à mesa e reunião de amigos.
Tenho saudade da vergonha de aparecer com nota baixa em casa, de modo que os alunos se esforçavam mais para não ficar de castigo.
Tenho saudade da vergonha de beijar na boca em público, que hoje em dia faz com que beijo não satisfaça, mão no pescoço não satisfaça, mão na bunda não satisfaça, e sempre há um assédio a mais pelas ruas.
Tenho saudade da vergonha de ser gorda e usar calças jeans, e ainda de cós baixo.
Tenho saudade da vergonha de amar, o que fazia com que as pessoas pensassem duas vezes antes de sair proferindo 'eu te amo's por aí.
Tenho MUITA saudade da vergonha de gostar de Michael Jackson, de modo que as pessoas que realmente amavam ele não se misturavam aos posers.
Tenho saudade da vergonha de ser criança, de querer crescer rápido, e ter um comportamento orgulhosamente contrário ao das adolescentes que parecem ter conservado seus oito anos.
Tenho saudade da vergonha que os gays tinham em se revelar, de modo que o mundo era mais esperançoso, e sem assuntos constantes que envolvam orifícios, gírias e olhos horrivelmente femininos.
Tenho saudade da vergonha de se mostrar, de se escancarar, da mania de querer recuperar o tempo perdido e assim, acabar exagerando. Porque aí eles não possuem vergonha. Quem tem vergonha sou eu, vergonha alheia, pelas pessoas quererem usar alto-falantes sem motivo. A vida parece bem melhor ao pé do ouvido, na minha opinião.

3 comentários:

Arthur Rangel B) disse...

Gente, assombrei, nunca tinha olhado nos meus olhos.oO'

E obrigado por sentir saudades das minhas conversas anti-higiênicas.xD

Yash disse...

Como posso dizer?
Não sei se concordo com todas as faltas de vergonha...Como ser mais livre em opinar, mas sem precisar de auto-falantes, sem precisar elevar a voz ao mundo..
Mas concordo que a vida ao pé do ouvido tais como são os segredos é melhor.

Ayla disse...

Concordo com algumas vergonhas
e queria muito que elas voltassem, mas o mundo não é perfeito...