Terceira parte do conto 'A Mensagem' de Clarice Lispector. Leia a primeira parte aqui e a segunda parte aqui.
Lembrem-se de que o conto NÃO ESTÁ NA ÍNTEGRA NESTES POSTS e pode ser encontrado no livro "Felicidade Clandestina" de Clarice Lispector, da Editora Rocco.
"...Aliás, não aprofundavam nada, como se não houvesse tempo, como se existissem coisas demais sobre as quais trocar ideias. Não eprcebendo que não trocavam nenhuma ideia.
Bem, mas não era apenas isso, e nem com essa simplicidade. Não era apenas isso: nesse ínterim o tempo ia passando, confuso, vasto, entrecortado, e o coração do tempo era o sobressalto e havia aquele ódio contra o mundo que ninguém lhes diria que era amor desesperado e era piedade, e havia neles a cética sabedoria de velhos chineses, sabedoria que de repente podia se quebrar denunciando duas caras que se consternavam porque eles não sabiam como se sentar com naturalidade numa sorveteria: tudo então se quebrava, denunciando de repente dois impostores. O tempo ia passando, nenhuma ideia se trocava,e nunca, nunca eles se compreendiam com perfeição como na primeira vez em que ela dissera que sentia angústia e, por milagre, também ele dissera que sentia, e formara-se o pacto horrível. E nunca, nunca acontecia alguma coisa que enfim arrematasse a cegueira com que estendiam as mãos e que os tornasse prontos para o destino que impaciente os esperava, e os fizesse enfim dizer para sempre adeus.
Talvez estivessem tão prontos para se soltarem um do outro como uma gota de água quase a cair, e apenas esperassem algo que simbolizasse a plenitude da angústia para poderem se separar."
Bem, o resto está no livro, foi só para vocês conhecerem um pouco do conceito detalhista de Clarice, sobre a alma e o cotidiano. Bom domingo!
Um comentário:
Fantástico, confuso, profundo, embaralhante, simples, complexo.
Adorei, adorei
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